A Terra dos Homens direitos

Era uma vez, lá na terra dos homens direitos, um rapaz que nasceu torto.
Uns diziam que lhe deu o vento, e que o entortou, eu cá acho que algo nele não queria ser igual e tão aborrecido, e decidiu nascer torto...
Acontece que, na verdade, porque eram direitos, estes eram homens também muito rígidos, punham tudo no sitio, eram excessivamente organizados, e tinham horários aparaltados, coisa que fazia espécie ao homem torto, que era como criança, sempre a imaginar, sempre ao sabor do vento, a deixar a compota aberta enquanto ia ver um filme, sempre alegre e no seu mundo.
Um dia, os homens direitos prenderam-no a uma cadeira para o pôr direito, mas pufff
Ele já não estava lá...
Tinha deixado o mundo dos homens direitos e ascendido à terra onde tudo é torto e encontra as linhas mestras na sua tortice, onde não há flor igual, nunca há, nem na terra dos homens iguais todos direitos, nem os homens iguais, todos direitos, todos de fato, conseguem ser exatamente iguais, e isso arrelia-os muito.
Acontece que os homens direitos são todos diferentes também entre eles, porque no cerne também eles são tortos, às riscas, azuis, brincalhões e esquecem-se de fechar a tampa da sanita, e fazem barulho a beber o leite por pacotinhos, mas eles não sabem, e se soubessem isso arreliava-os muito, e pufff
de vermelhos
transformavam-se
num tomate...