Lugar Próprio

12-04-2022

E ali estava João Eduardo, sim, o mesmo João Eduardo de sempre, pelo menos em carne e osso, esse João Eduardo das incontáveis aventuras estivais, dos pensamentos fantásticos em catadupa, das muitas peripécias, sentado agora numa praia fluvial do baixo Alentejo, e refletindo sobre o seu papel no mundo, sobre quem ele agora é. Apesar do seu coração continuar a bater, do seu corpo funcionar às mil maravilhas, do envolvente ser bom, parece-lhe que falta a mesma essência do João Eduardo, a alegria de estar vivo, de fazer coisas diferentes, de ser jovem, a suave melodia do coração, e o que fazer para recuperá-la? Deixara-se muitas vezes, nos últimos meses, cair no desânimo, no desalento, e então, agora, o vento ligeiro, o rio a embater na areia e nos seus pés, fazia com que este reerguesse a cabeça e como que acordasse de um longo sono 

- O que raio andei eu a fazer? 

 Estivera sedado nesses largos meses que passaram como um sopro, incapaz de ver luz, incapaz de prosseguir com a sua vida, incapaz de se reerguer de uma queda que já nem o próprio se lembra de ter tido, e então a sua jornada fora dura: é ainda dura 

Que há a dizer João Eduardo que não te conformas, que te deixas muitas vezes cair em tristeza? Não vês que quanto mais caminhas menos a melancolia se apodera de ti, não vês que se trata sempre ou quase sempre de aceitar o que quer que a vida nos traga? Que outra opção há? 

O narrador pouco sabe das razões das coisas ou da tua dor, a única coisa que ele te pode dizer é que os maus momentos, bem como os bons, sempre têm tendência a passar, e que é preferível a vida, o discernimento, a clareza, ao desânimo, e à revolta. Que alimentarás tu a partir deste momento João Eduardo, que permitirás que cresça em ti? Algo construtivo ou algo destrutivo? Não permitas de maneira nenhuma que a nuvem se apodere de ti, o rio é teu verdadeiro amigo, a areia... estão contigo de forma neutra, darão o melhor delas como é sua natureza e quem sabe tu poderás encontrar também o teu lugar neste mundo, quem sabe encontras também tu o teu lugar no ciclo sem fim 

Prossegue bom amigo, continua a caminhar

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