Quem recordo?

27-06-2025

O que é isso a que chamamos amor?

Será apego, existirá de verdade?

Como lia algures, ao contrário do pensamento, os sentimentos não são conscientes, ou são semiconscientes. Podemos chegar à conclusão, mas sempre sem certezas, que amamos. Nas relações que conheço, às vezes duradouras, e em que pessoas gostam verdadeiramente umas das outras, essas mesmas pessoas são as únicas que não percebem que se amam, e muitas vezes há conflitos e incertezas por essas razões. Mais uma vez, como em tudo, é um problema de consciência.

Daquilo que a mim diz respeito, das relações que tive, nunca tinha a certeza que gostava. Curioso que depois, depois de acabarem, as saudades que senti eram evidentes, e ainda hoje me lembro de pessoas que me marcaram e com quem estive. Com apreço, com carinho, como não podia ser de outra maneira.

Talvez aprendamos a gostar com a convivência, talvez sejamos animais de hábitos, de rotinas, e então tudo não passa à posteriori de um certo saudosismo irreal, ou então não sei, mas quero acreditar que ganhamos estima pelas pessoas com quem estamos, que as pessoas nos marcam verdadeiramente.

Um exemplo de como ficamos verdadeiramente marcados. ao nível mais profundo, que pessoas nos causam tremenda impressão, que o amor passa mesmo barreiras e talvez o tempo e o espaço, sendo indestrutível, é o Alzheimer. Um autor que fala de experiência sobre isso é Cristian Bobin.

Uma pessoa que vai progressivamente mirrando, que se vai esquecendo de tudo, não esquece as pessoas dos seus tempos idos, não esquece os filhos, não esquece a mulher, não esquece esses ternos amigos que tanto o marcaram. Que esta realidade humana tão irreal e precária encontra sentidos.

Assim, pergunto-me: quem recordaria eu num caso desses? Quem eu quereria ao pé de mim nas ultimas horas?

Talvez essa seja uma boa pergunta para avaliarem se a vida com o vosso cônjuge vai bem ou tem razão de ser: Essa é uma pessoa que recordariam, que gostariam de ter convosco num grupo seleto de pessoas nos vossos últimos anos? 

Não é uma questão fácil de responder, ainda para mais se estiverem chateados com a vossa cara-metade.

O que estou dizendo é que muitas vezes, sem se saber, quase sempre sem se saber, relações findadas e outros, ama-se para toda a vida, e há uma tremenda beleza nisso. Não sou um terapeuta conjugal, e também, muitas vezes, que sabem esses mesmos sobre o que quer que seja? Será este tema coisa que se aprende nas universidades? Serão fórmulas? Não me parece, mas temáticas são obviamente belas e vale a pena refletir sobre isso mesmo

Face a tudo isto, e quero e convém-me dizê-lo, como podemos dizer que a vida não faz sentido? Que tudo não é uma preciosidade?

Oh, quem recordo eu hoje? E quem recordaria? 

Haverá coisas que o tempo não leva? 

Não sei, mas também se souber não digo…

Descubram!

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