Reflexão em conjunto

Uma coisa que verifico, com leituras diversas, com a observação de amigos, é que há pessoas bem mais simples e espontâneas que eu, mais simpáticas, empáticas, e eu há bem muito pouco tempo não tinha noção disso; ou tinha noção, mas não lhe dava o devido valor. Isto de uma pessoa se comparar às vezes pode ter o seu intuito, uma vez que nos faz refletir sobre nós; ou se não nos compararmos pelo menos o ato de simplesmente observar os outros e a nós mesmos... observar é decerto uma coisa boa
Algo que eu dizia quando era novo quando me perguntavam uma característica minha é que era simpático. É das características que mais se atribui às pessoas assim facilmente; quando não se sabe o que dizer de uma pessoa diz-se: "ah, é simpática!", Mas será que é mesmo? Será que isso de ser "simpático" se encontra assim tanto? A minha parece-me, numa primeira análise, que muitas vezes deixamos ir o medo à frente e não nos permitimos ser empáticos, simpáticos, que andamos sisudos e que por isso a simpatia é mais escassa do que parece
Eu tenho visto que ser simpático talvez não seja das minhas características mais fortes afinal, que afugento mais as pessoas a fim de me proteger, e esta proteção é nada mais que um mecanismo enraizado de medo, e assim impossibilito que haja um sentimento comum, o ser-se simpático. Simpático vem aliás do grego SYN, que significa junto, mais PATHOS, que significa sentimento, emoção, experiência; assim, ser simpático não é mais que ter sentimentos em comum, ter afinidade, ainda que nos dias de hoje o significado que lhe damos fuja um pouco à etimologia: hoje em dia simpático significa mais ou menos a capacidade de criar empatia com o outro, ou o ser-se "polite"
Adiante, ou é de mim, que convivo pouco com outras pessoas, não tendo assim uma noção real do que se passa por essa mundo fora, talvez seja esse o caso, ou muita gente tem este fechamento aos outros, esta antipatia. O meu caso é de uma pessoa que não permite que os outros cheguem a mim, por medo instintivo de ser magoado, criando dessa maneira uma espécie de imagem e de maneira para me relacionar, à distância, sempre à distância, com os outros, dificilmente quebrada; só quebrada com a força da espontaneidade, a força de um sorriso sincero, etc
Agora que reflito pergunto-me se talvez isto que chamo ser antipático não possa ser reserva, eu ser uma pessoa reservada? Talvez, mas não deixa de haver por esse mundo fora muito fechamento, muito desinteresse pelo outro, muitas portas fechadas, e por outro lado, a simpatia possa ser uma característica inata da pessoa, que nada tenha a ver com o fechamento aos outros ou não. Enfim, como dizia Agostinho da Silva " uma coisa que nunca sabemos nesta vida é se uma coisa parece ou é", o nosso pensamento é falível. Talvez Freud e todos esses psicanalistas estejam errados, todas essas fórmulas que dizem uma coisa ser isto ou ser aquilo não sejam mais que ideias rebuscadas, um pouco com o que se passa com este texto. Não sei, nunca sabemos, ainda que às vezes as coisas possam parecer bastante claras.
Simpáticas, na verdade, são as crianças, ou antipáticas, são espontâneas; nós não somos mais que uma versão delas mais rasca, menos verdadeira, com artifícios, com imagens, com falsidade