Sair do Poço

Caminho pela parte mais exterior de uma cidade do interior de Portugal, numa suposta pista que aqui tem, e o tempo, coisa que geralmente muito influencia o estado de espírito de uma pessoa, está nublado. Poucas pessoas há na rua, e ainda por cima para uma sexta-feira, e o sol não se vê, ou vê-se pouco, e isso faz com que a minha mente, que tanta tendência tem para deambular e me meter em alhadas, exponencie o seu envolvimento, a sua melancolia, o seu melodrama. Na verdade, pouco há a fazer para deixar este estado senão seguir vivendo, seguir caminhando, e isso é algo que eu me vou apercebendo cada vez mais, é algo que vou tentar fazer logo que vos deixe de escrever. Creio que o comum dos mortais, no seu dia a dia, já se debruçou várias vezes sobre o desânimo, sobre o desespero que surge dessa melancolia, mesmo que seja só em pequenas proporções. Este ataca-nos sempre com a tal ideação do futuro crítico, mais propriamente com o caminho duro para lá chegar, e diz-nos que não conseguiremos aguentar "a parada" , que não vale a pena a luta diária, e alguém minimamente sensato já terá pensado, como é normal, que talvez essa ideia esteja certa; que não vale a pena a luta. Ao final andamos todos sempre como que a lutar contra a maré e viver não é fácil, não é fácil levantar-se todos os dias da cama e fazer o possível e o impossível para se cuidar, pelo menos numa determinada idade, com alguma inexperiência de vida
A solução para esta problemática, como dizia em cima, talvez seja só seguir, um dia atrás do outro, e perceber a alegria e leveza que ganhamos ao fazê-lo, bem como o peso que perdemos por não estarmos debaixo dos lençóis tristes e refugiados, a alegria de fazer coisas, de estar vivo e ativo, ou então só temos de dar a volta à questão, perceber que algo que nos pesa os pés quando caminhamos e que muitas das vezes nos derruba é a própria força de vontade cega com que perseguimos os objetivos a que nos propomos, força tão cega e tão destrambelhada, que nos faz querer mudar tudo de imediato, sinónimo da imaturidade, que quando certo objetivo não é cumprido, rapidamente se cai em desânimo e se volta para o buraco: ora, sem isso andamos mais leves e chegamos mais longe, tendo na mesma, claro, objetivos e sonhos
Creio que ao final estas sejam questões que resultam de alguma inexperiência, pois quanto mais se anda menos poder e atenção se dá a mudanças de humor, a oscilações psíquicas, a nuvens negras, pedras no caminho, mas bem, espero que vos tenha sido útil
Dita a solução deste hipotético problema,
vá, vamos lá,
deixemos este texto que agora é sobre nada.