Sem Lugar
31-10-2022

Agostinho da Silva costumava dizer que ser homem é difícil, pois tantas vezes se murcha, pois muito se alterna entre vivacidade e florescimento e decadência e morte. Também eu tenho andado murcho nos últimos tempos, nem me recordo até desde quando tenho andado murcho: talvez desde há um ano. Tive algumas experiências místicas, experiências de intensa alegria, tive outros momentos mais ordinários em que ainda que não resplandecesse sentia-me mais encaixado no mundo, mais satisfeito e mais confortável, em que gostava dos espaços, da existência, em que parecia ter um lugar, uma forma de viver, mas tudo isso se foi, a minha existência é a daquele que não tem uma forma, que acorda tarde e sem alento, sem muita esperança, mas também sem desespero, a existência daquele que se arrasta
Talvez, vejo agora, devesse escrever mais, pois constato que está a ser importante e que o problema parece ter desaparecido... ou talvez só novo alento tenha sido conseguido
Enfim, sou muitas vezes um "sem lugar", muitas vezes nada me preenche, muitas vezes uma inércia se apodera de mim, uma aura pesada me pesa até os olhos e o descernimento, quanto mais o espírito; e a vida do que se trata é de espírito, de leveza, de espontaneidade. Estava murcho, já fiquei melhor, ligeiramente melhor, e agora é esperar que as coisas melhorem, pois não temos grande opção senão aceitar o que a vida nos vai trazendo. Vou observar atento como me vou sentindo ao longo dos dias para assim ir encontrando padrões, razões, para resolver a minha vida