Viajar

Adoro escrever, também porque adoro ler, porque respiro literatura, e literatura são histórias, mitos, contos, em que viajamos e viajávamos em criança, na fantasia: a doce melodia, inaudível, de imaginar, de viajar; esse é realmente o fruto de pensar, o ex-libris dessa ferramenta tão complexa como é a mente: criar, criar mundos
Sempre viajei, mas em criança a inocência era outra, as perguntas que as histórias me levantavam eram outras, e as manhãs solarengas, as tardes de verão de descanso, as noites de mistério, em que tudo era novo, eram revestidas por um clima de proteção, em que tudo estava bem, e em que haviam histórias, contadas pela mãe, pelos tios, pelo mundo, e tenho a impressão que já na altura havia algo a fazer, estava a aprender para poder voltar, de outra maneira, maduro, de onde saía, e havia, há, muito que aprender, aprender que mundo é este, separar o trigo do joio, o real do que não é, para poder voltar para o leve e sensível novo, esse ainda anterior à criança, porque não se trata só de voltar, trata-se de evoluir no regresso, voltar para essa luz impere-cível que adoro, essa atenção que recordo com nostalgia, em que tudo é percebido, interiormente, e assimilado, em que há, verdadeiramente, comunicação, mesmo à distancia de anos, de quilómetros, de eras
Mas não interessa, havemos todos de lá voltar,
Para já deixem-me viajar,
Nem que seja como posso